quarta-feira, 18 de abril de 2012

O pastorinho



No meio do campo
'Tava um pastorinho
Descansava o espanto
Todo deitadinho

Todo deitadinho
Nem p'ró céu olhava
O que é que ele via
A ninguém contava

A ninguém contava
A ninguém dizia
Vinha sol ou sombra
Tanto lhe fazia

Tanto lhe fazia
'Tava deitadinho
Num colchão às riscas
Todo arrumadinho

Todo arrumadinho
'Inda hoje lá está
E não diz quem é
Nem p'ra onde irá

Nem p'ra onde irá
Nem p'ra onde iria
Se o colchão pudesse
Voar alto um dia

Voar alto um dia
Se o colchão pudesse
Voar como a abelha
Aos ésses e ésses

Aos ésses e ésses
Se o colchão voasse
No meio do céu
Ele adormecesse

Ele adormecesse
Todo arrumadinho
E ninguém o visse
Dentro do seu ninho

Dentro do seu ninho
Não dava nas vistas
Quem de longe o visse
Via uma nuvem às riscas

Amélia Muge, "O Pastorinho", Todos os Dias (1994)