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Imagem da capa do livro Um Vôo
Brechtiano (Editora Perspectiva,
1992), organizado por Ingrid
Dormine Koudela. |
Entre uns livros escolhidos na Livraria Trama na semana passada vinha
Um Vôo Brechtiano, organizado por Ingrid Dormien Koudela. Uma frase e depois outra prenderam a atenção e já não foi possível deixá-lo por lá. Por causa dos sobre-voos? Também. Na hora de fazer contas ofereceram-me este voo, assim de surpresa, uma vez sem exemplo. Bela prenda.
Dois dias depois, ao passar numa movimentada rua de Lisboa, uma menina adolescente parou à minha frente para oferecer "um abraço grátis". Ainda não tinha ouvido falar desta corrente de abraços que anda a percorrer cidades pelo mundo e mostrei-me por isso muito surpreendida. Soube bem o abraço.
E o que tem isto a ver com sobre-voos e necessidades especiais na infância?
«(...)
Havia muito canto, as falas precisavam ser claras, portanto não poderíamos deixar de trabalhar a voz dos atores. O tempo era curto. Coube-nos a tarefa de propor alguns exercícios. Para melhorar a emissão e projeção da voz e reforçá-la em toda a sua extensão, fizemos exercícios de escalas ascendentes e descendentes em várias alturas e intensidades, usando as sílabas mi-lá-dó. Trabalhamos várias sequências de três sons. Para melhorar a articulação usávamos frases curtas que privilegiassem fonemas básicos na nossa fala, por exemplo: "A madrasta falava da sacada da casa da praça". Durante os exercícios observava-se o uso da respiração e a preparação geral do corpo para falar ou cantar. Mais alguns pequenos textos que foram trabalhados:
Pára-me de repente o pensamento
Como se de repente sossegado
Parasse-me todo o movimento.
Tatu Tauató
Tatuetê Tai
Tem Tanto Tatu
Não Tem Tatui.
(...)
O sonho atávico de voar, que atinge todo ser humano, apossou-se dos atores, a ponto de sonharem realmente com vôo. Sonho - real. É sonho sobre sonho. (...)»
Socorro Santiago, "O protocolo: instrumento de trabalho de Bertolt Brecht,
um recurso metodológico" in Um Vôo Brechtiano,
São Paulo: Editora Perspectiva, 1992, pp. 108-111.
Um abraço à Trama, bom 2011.