No meio do campo
'Tava um pastorinho
Descansava o espanto
Todo deitadinho
Todo deitadinho
Nem p'ró céu olhava
O que é que ele via
A ninguém contava
A ninguém contava
A ninguém dizia
Vinha sol ou sombra
Tanto lhe fazia
Tanto lhe fazia
'Tava deitadinho
Num colchão às riscas
Todo arrumadinho
Todo arrumadinho
'Inda hoje lá está
E não diz quem é
Nem p'ra onde irá
Nem p'ra onde irá
Nem p'ra onde iria
Se o colchão pudesse
Voar alto um dia
Voar alto um dia
Se o colchão pudesse
Voar como a abelha
Aos ésses e ésses
Aos ésses e ésses
Se o colchão voasse
No meio do céu
Ele adormecesse
Ele adormecesse
Todo arrumadinho
E ninguém o visse
Dentro do seu ninho
Dentro do seu ninho
Não dava nas vistas
Quem de longe o visse
Via uma nuvem às riscas
Amélia Muge, "O Pastorinho", Todos os Dias (1994)